sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A HOMOFOBIA NO BRASIL

Introdução
A homofobia pode ser entendida como uma atitude de hostilidade perante os homossexuais, seja com uma rejeição irracional ou ódio, quanto a qualificar gays e lésbicas como inferiores, contrários e até mesmo anormais.
Esta hostilidade levou a questão ser problematizada diferente de como acontecia anos atrás, pois a atenção agora vai além de estudar o comportamento homossexual, e foca principalmente nos motivos que levaram essa forma de orientação sexual ter sido considerada desviante no passado. Não é mais apenas uma questão homossexual, mas a homofobia merece, a partir de agora, uma problematização particular.
1  Objetivo
O objetivo central desta pesquisa é analisar a problemática homofóbica, partindo das atitudes antigas que se transformaram com o passar do tempo no Brasil.

Específicos
Busca de forma clara explorar o assunto, enquanto passa a ser entendido as estáticas de crimes cometidos contra gays, transexuais, lésbicas e travestis, bem como pretende apresentar o perfil das vítimas, desde a raça e idade até a relação do suspeito e as vítimas, e dados sobre a ocorrência desses casos no Brasil.
2.    Justificativa
O presente trabalho adotou a temática da homofobia por ser um problema que tem se intensificado ainda mais com o declarado ódio de líderes religiosos junto de seus fiéis seguidores que se recusam a aceitar tipos de família não-tradicionais.
O Brasil, por um lado, busca a inclusão da fatia LGBT no país como cidadãos normais, e por outro, envolve-se em uma situação receosa por conta do tema, uma vez que ao gerar leis específicas para resolver, mesmo que parcialmente, as ocorrências de crimes de ódio contra gays, eles vão gerar polêmica em parte da população que ainda não vê o “comportamento” com naturalidade, principalmente os que seguem alguma religião menos tolerante.
A pesquisa mesmo não induzindo qual a maneira mais correta de se viver, não pode deixar de lado os dados de levantamentos que revelam que ao menos uma vítima de homofobia e transfobia é morta a cada 28 horas, um número muito preocupante, pois a maioria das vítimas são mortas de forma brutal, sem nenhuma chance de fugir, em uma situação que vai totalmente contra os direitos humanos de qualquer cidadão.
            Junto da xenofobia, o racismo e até o antissemitismo, essas manifestações de repulsa continuam sendo problemas de proporções mundiais, tendo grande relevância no cenário que nos encontramos atualmente, mostrando que por mais que o modo de pensar e agir tenham se tornados mais tolerantes, os casos citados acima mostram que a situação está longe de ser extinta.
3.    Metodologia
Para que fosse possível uma pesquisa em âmbito nacional, a metodologia de análise adotada consiste na coleta de textos, notícias e relatórios realizados por entidades defensoras do público LGBT, que colheram dados enfocados nos crimes de ódio.
Em documento completo da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), publicado no ano de 2012, temos a reunião de variáveis pertinentes (com base no Disque 100/SiMec) para nosso estudo, como vemos a seguir:
(i)           Grupo de violação; UF; município; bairro; data; tipo/subtipo de violação; frequência; local da ocorrência;
(ii)          Relação vítima/demandante; relação vítima/suspeito;
(iii)         Perfil da vítima: Sexo; identidade de gênero; orientação sexual; raça/cor; idade vítima; deficiência; situação de rua;
(iv)         Perfil do suspeito: Sexo; identidade de gênero; orientação sexual; raça/cor; idade vítima; deficiência; situação de rua.
(iv)
Torna-se válido informar algumas considerações referente às limitações que existe no uso de dados quantitativos no estudo das violações dos Direitos Humanos. Há uma dificuldade em obter dados que são confiáveis, uma vez que as unidades da federação não têm obrigatoriedade em reportar os dados referentes à segurança pública, que em muitos casos ocorre ausência de campo voltado à orientação sexual, identidade de gênero e escassez de dados demográficos da população LGBT.
O mesmo documento usado para nortear o trabalho, mostra que o Censo IBGE 2010 apresenta dados sobre a coabitação com parceiro do mesmo sexo, totalizando 60.002 brasileiros na época que se enquadram nessa situação, mas o Censo Demográfico e Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios deixam de lado perguntas relacionadas a identidade de gênero ou orientação sexual.
A SDH/PR conta com dados coletados a partir do Disque Direitos Humanos (Disque 100), que vem se consolidando como o principal canal de denúncias relacionadas às violações de natureza homofóbica.
Todos os dados obtidos foram analisados sobre uma mesma linha de raciocínio, delimitando-se a não se apresentado de forma pessoal explicitando a opinião de uma pessoa específica, tratando o assunto como um problema grande, no Brasil e em outros países como Síria, Uganda e outros.

4.    Levantamentos
O termo homofobia vem das palavras gregas: homo, significando igual, e phobia, que significa medo. Logo, podemos afirmar que significam juntas aversão, ódio ou receio por pessoas que se relacionam sexual e afetivamente com indivíduos do mesmo sexo. Um conceito amplo para uma única palavra, mesmo que torne a interpretação do termo deturpada, já que a maioria das pessoas não tem medo do homossexual. Na verdade, o que surge é um pré-conceito em relação a um grupo diferente daquele de convivência.
A homofobia é um fenômeno complexo e variado. Está em piadas vulgares usadas para ridicularizar o indivíduo efeminado, e também é revestido de formas brutais, chegando inclusive à exterminação, como foi o caso na Alemanha nazista. O preconceito tem a função de agravar as diferenças, colocando aqueles que o sofrem em situação de fraqueza, considerando que os praticantes sempre tem uma visão estereotipada daquilo que ele julga certo e errado. A discriminação das minorias acontece justamente quando há um dominador.
Se for considerá-los assim, deveríamos dizer que o homossexual é culpado do pecado, sua condenação moral seria necessária. Se seus atos sexuais e afetivos são considerados quase como crimes, então sua punição deveria ser na melhor das hipóteses, o exílio, e na pior, a pena capital, como ainda acontece em alguns países.
A homofobia implica ainda numa visão patológica da homossexualidade, submetida a olhares clínicos, terapias e tentativas de “cura”.
Melhor que redigir muito sobre a situação atual do Brasil neste trabalho, optamos por mostrar dados levantados em diversos relatórios de pesquisas renomadas, como abaixo:
Em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em setembro ocorreu o maior número de registros, 342 denúncias. Em relação a 2011 houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.
De acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), em um ano chegaram ao número de crimes de repúdio de 186 gays, 108 transexuais, 14 lésbicas, 2 bissexuais e 2 héteros mortos, confundidos com homossexuais.  Entre 2013 e 2014, já foram documentados 312 assassinatos de gays. O levantamento de mortes inclui 10 suicidas gays que tiveram como motivo de seu desespero não suportar a pressão homofóbica, como aconteceu com um jovem de 16 anos, de São Luís, que se enforcou dentro do apartamento.
Outro dado importante na caracterização sociodemográfica da população LGBT é a raça/cor autodeclarada. Negros (pretos e pardos) totalizam 40,55% das vítimas; seguidos por brancos, com 26,84%. Quanto à faixa etária das vítimas, a grande maioria concentrase na população jovem, com 61,16% de vítimas entre 15 e 29 anos.
Novamente referente aos dados das denúncias realizadas no mesmo ano, foi analisado a relação entre o suspeito denunciado e a vítima, temos que 58,9% das vítimas conheciam os suspeitos, enquanto 34,1% eram desconhecidos. Ainda no grau de relação entre os envolvidos, os vizinhos aparecem mais frequentes nas estáticas, com 20,69%, seguido de familiares com 17,72%. Entre os familiares, destacamse os irmãos, com 6,04% das ocorrências, seguidos pelas mães e pais, com 3,93% e 3,24%, respectivamente. Na categoria “outras relações”, que soma 9,89%, incluise relações menos recorrentes, como empregador, excompanheiro, professor.
Violências homofóbicas acontecem tanto em espaços públicos (como ruas, estradas, escolas, instituições públicas, hospitais e restaurantes), quanto em espaços privados, como se pode denotar com os dados de 2012. 38,63% das violações ocorreram nas casas – da vítima (25,54%), do suspeito (7,76%), de ambos ou de terceiros. Seguido pela rua, com 30,89% das violações e outros locais com 19,88% das denúncias.
Foi verificado também que violências psicológicas foram as mais reportadas, com 83,2% do total, seguidas de discriminação, com 74,01%; e violências físicas, com 32,68%. Também há significativo percentual de negligências (5,7%), violências sexuais (4,18%) e violências institucionais (2,39%).
Dois anos depois, o Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos, segundo agências internacionais,  concentrando quatro quintos (4/5) de todas execuções do planeta, sendo que  40% dos assassinatos de transexuais e travestis no ano passado foram cometidos no Brasil.
Os estados que lideram a violência são Pernambuco e São Paulo, onde mais vítimas foram assassinadas. Já os estados de Roraima e Mato Grosso são considerados os mais perigosos para esse segmento. Manaus e Cuiabá foram as capitais onde se registraram mais crimes homofóbicos.
Neste sentido, consideramos que a violência contra a população LGBT no Brasil ainda existe em níveis alarmantes, o que exige que os governos Federal, estaduais, Distrital e municipais desenvolvam políticas públicas eficazes e articuladas para o enfrentamento dessa violência. A diferença não pode ser justificativa para a violência, muito menos conceitos como “relações naturais” podem justificar a existências de grupos especializados em crimes de ódio contra a população LGBT.
Casos
Dentre os inúmeros casos que fazem parte dos números citados acima, apresenta-se alguns em poucos detalhes abaixo.
·      Marcos Vinícius de Souza - O jovem de 19 anos foi morto a facadas no Parque do Ibirapuera ao se afastar de seus amigos para urinar.
·      Wanderson Silva - 17 anos, foi encontrado jogado em um matagal, em João Pessoa (Paraíba), com um tiro na cabeça e marcas de espancamento pelo corpo. O jovem gay teve o cabelo raspado e colocado dentro de uma sacola plástica, encontrada próxima ao cadáver, junto com seu enchimento para seios.
·      Alisson Silva Lima Bezerra - 15 anos, foi encontrado morto em Fortaleza.  Ele foi assassinado com golpes de facão.
·      Sérgio Ricardo Chadu – 51 anos, o funcionário público de Uberlândia era homossexual assumido e foi assassinado a tijoladas, sofrendo um esmagamento do crânio.
·      Nome não revelado – 19 anos. O rapaz havia sido agredido por dois homens em Betim, e cinco dias depois, foi obrigado a entrar em uma Kombi pelos mesmos homens, teve seus cabelos e barba queimados e os braços machucados. Os homens rezavam e pediam perdão pelos pecados do rapaz. Foi abandonado com vida junto de uma carta que dizia que aquilo foi limpeza em Betim e trazer o fogo da purificação a cada um que andar nas ruas declarando seu 'amor' bestial.

5.    Referências Bibliográficas
LIONÇO, Tatiana; DINIZ, Débora (org.). 2009. Homofobia e Educação, um desafio ao silêncio. Brasília: Letras Livres.
WAISELFISZ, Júlio Jacobo. 2011. Mapa da violência 2012: os novos padrões da violência homicida no Brasil. São Paulo: Instituto Sangari.
WAISELFISZ, Júlio Jacobo. 2012. Mapa da violência 2012: a cor dos homicídios no Brasil. Rio de Janeiro: CEBELA, FLACSO; Brasília: SEPPIR/PR.
BELATO, Clara e PEREIRA, Eduardo. 2010. “Sexualidade e Direitos Humanos” em: Revista Internacional de Direito e Cidadania.

SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Relatório sobre a Violência Homofóbica no Brasil: Ano de 2012. Disponível em: http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/pdf/relatorio-violencia-homofobica-ano-2012. Acesso em 27 de Novembro de 2014.